domingo, 22 de julho de 2012

As pessoas lutam para reencontrar familiares que não conheceram por qualquer motivo fortuito. Dos militares que saíram em missões e por lá ficaram, fazendo e desfazendo vidas ao sabor dos acontecimentos, dos civis que correram mundo buscando algo que o fluir energético da vida lhes facultava ou não. Não temos domínio sobre o que nos acontece. A convicção antiga de que cada um tem a vida que escolhe não corresponde minimamente à verdade histórica. Se falamos de reis, eles «quase» levaram a vida que quiseram. Mas quantas vezes a ambição de países vizinhos e mesmo de familiares próximos ou afastados os obrigaram a enveredar por soluções que nunca antes imaginaram e muito menos desejaram? Essa espécie de futuro previsto e programado criou, ou permitiu, a crença de que o homem dispõe da sua vida como lhe aprove. Crença falsa e só aceite por crédulos pouco dados à observação e ao pensamento. Basta observarmos a natureza. Basta falarmos com qualquer agricultor analfabeto para compreender como eles vivem e aceitam a vida como ela se apresenta dia após dia. De facto, as suas previsões de plantações e sementeiras são baseadas na experiência de anos anteriores. Sabem por experiência que depois do tempo quente vem o tempo frio e que estas duas épocas surgem regularmente após uma espécie de períodos de transição batizadas de primavera e outono. Ou seja, nada na natureza ocorre de súbito. E nós, os seres vivos pensantes, tal como os restantes menos pensantes mas sem os quais não há ambiente, como por exemplo as plantas, dependem em absoluto dessa rotina natural de pequenas mas constantes variações. Portanto o ser humano por muito que pretenda, não pode, quer na essência quer na substância, ser coisa diferente daquela que a própria natureza é. E, curiosamente, a natureza move-se sempre na mesma direção, a que lhe garante a perpetuação de si mesma! Ela e só ela, sem se deter com «problemas» como as brotações, vegetais ou carnais, que em dado momento acontecem na maior ou menor perfeição no seu seio: a natureza alimenta-se com tudo o que ela própria cria ou transforma. Ou seja, a natureza recicla-se permanentemente. É a maneira de se perpetuar. O homem não pode fazer nada diferente. Por muito orgulho que tenha no que faz, não passa de um pobre imitador. Parece pois elementar compreender-se que os seres vivos não são seres independentes. Não existem por si. Existem por causa de tudo o mais que existe; concomitantemente. Se isto é verdade, como parece, então o que é essa coisa do futuro, essa «vontade» de querer modelá-lo a nosso belo prazer ou desprazer? A história é um arquivo morto mas o único que, mitigando, atesta os fracassos do querer humano, dos seus projetos e sonhos, das suas ilusões e dominações, das suas paixões e desilusões. Os seus escribas tiveram como objetivo referir apenas as partes melhores, como sucedeu com as descrições dos reinados de reis e imperadores. Todos tinham de gravar na história a grandezas dos seus senhores para manterem a cabeça sobre os ombros. Ainda hoje as reportagens televisivas selecionam as imagens de acordo com a mensagem determinada pelas forças governamentais. Já reparaste em como só apresentam as ruínas das habitações e os corpos mortos ou estropeados das classes desfavorecidas? O lado sumptuoso das cidades habitadas pelas elites, embaixadores e tycoons, nunca aparecem a não ser o pequeno retângulo da porta de entrada, de um hall e pouco mais. Ou seja, a mensagem é: «agradeçam-nos (ao governo) e sintam-se sortudos por não viverem como estes infelizes incivilizados, incultos e sem liberdade. Este panorama do mundo é interiorizado pela grande maioria das pessoas que raramente questionam a sua autenticidade, não das imagens mas daquilo que, sistematicamente, elas não mostram. Estas mensagens subliminares convencem as pessoas de que são culpadas por não irem mais além do que são, ou por outras palavras, se não desfrutam de melhor nível de vida é porque não querem ou, pior ainda, porque não têm capacidade para ser outra coisa. Portanto, têm o que a sua pequenez lhes permite ter. Os governos não têm culpa nem dos frutos belos nem frutos mirrados. Se querem ser mais têm de estudar nas escolas preparadas para esse efeito e, claro, preencher os requisitos que esses outros que vivem lá nos altos das pirâmides preencheram em quantidade.