sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

20150112 - «[...] somos feitos de tal maneira que não só [...] temos necessidade de uma certa proporção de verdade e de erro como base da nossa vida, como temos também necessidade de uma certa proporção de claridade e obscuridade da imagem dos elementos da nossa vida». [...] Por conseguinte a transparência tira às coisas todo o encanto e «proíbe a fantasia de nelas entretecer as suas possibilidades, perda da qual nenhuma realidade pode compensar-nos, porque a obra da fantasia é uma atividade própria, que a longo prazo não pode ser suplantada por forma alguma de reação ou gratificação». G. Simmel citado por Byung-Chull Han, in Sociedade da Transparência, 2014, Relógio d'Água Editores. Das eleições da Grécia retiramos essa ilação: a fantasia para o ser humano não é substituível por nenhuma realidade por mais racional que se apresente ou queira apresentar-se. Após milénios de domínio oligárquico racional, a necessária fantasia, nunca de todo sufocada, germinou e foi brotando aqui e ali pelo mundo. Finalmente, ontem, na Grécia, pátria da filosofia e cultura  ocidental, despontou com força, ergueu-se cima do «politicamente correto» e mostrou entusiasmada as primeiras folhas do caule que se deseja floresça pelo mundo. Para as oligarquias o povo sempre foi uma força perigosa incapaz de se dirigir a si própria se deixada livre sem um domínio firme que lhe indique o caminho. Contudo, esta convicção erra por mal intencionada porque tão somente  pretende tirar benefício direto do trabalho a que sujeitam os outros em troca de acesso controlado à alimentação e a tudo o mais fundamental à vida. Esta é a realidade dominante desde os primórdios da história nos povos dados como civilizados . Pergunta fundamental: é assim porque é, porque não há outra maneira de viver ou é assim porque o ADN de uns poucos determina-lhes a ganância da dominação e espoliação? Como o jacaré ou o abutre ou o escorpião? Se a resposta é sim, então a endeusada racionalidade é só para seu uso pessoal; se a resposta é não,  então agem como animais irracionais obedecendo aos seus próprios instintos. Em qualquer caso o perigo não está nos povos...

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