sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Diálogos Fictícios II, O Mal

20071102 Há um lugar para tudo, mesmo para o mal? A vibração das palavras invadem-nos de tal modo que nos é exigida cuidada atenção para separar aquelas com sentido da realidade das outras que falam de engano. Pelas palavras nos situamos. Elas dão as coordenadas para a decisão de onde queremos ou devemos estar: aqui ou ali? Isto é coisa importante? Estar aqui ou ali não é o mesmo planeta ou continente ou território? Não, não é o mesmo em nenhum dos sentidos. Quer no sentido fisico da orientação territorial quer em todos os outros meta-sentidos em que a actividade humana se desenvolve. Ser carpinteiro, por exemplo, é estar capacitado de exercer uma actividade que só existe na sua prática concreta e sob determinadas condições. Onde está o carpinteiro está a arte de carpinteirar. Aqui ou ali. Ou ser médico. Quando se fala de medicina também não se designa um lugar fisico, designamos um saber que é "visivel" atraves de uma prática independentemente do lugar físico onde é exercida. Esta capacidade de denominar abstractivamente actos, saberes e instituiçoes, cuja categorizaçao tanta tranquilidade nos trás, parte de um lugar para designar outro lugar, ou seja, do lugar do saber para o lugar da sua prática. O médico, voltando ao mesmo exemplo, exerce a sua prática com vista à cura tanto aqui como ali, mas também a exerce neste corpo como noutro. O lugar da prática de curar é assim variável como o objecto que se pretende curar. Tal como o carpinteiro, ambos levam consigo um saber adequado às respectivas práticas, aqui ou ali, neste ou naquele. Ou, tal como o politico: o lugar da adequação conceptiva da ieologia é a sua mente e o lugar da sua prática a "mente" senso-intuitiva da nação representada na assembleia; a sua ferramenta o verbo insubmisso inspirado nas ideologias dogmáticas que representa e caldeia no cadinho democrático da assembleia. (continua) DIÁLOGOS FICTICIOS: Olá DI, A tristeza dá-se bem com a dúvida. A alegria tem a vantagem da dissipação, do aligeirar, da leviandade, da inconstância, do inconsequente, todas elas, atitudes incompatíveis com a meditação. Esta, singela, alicia-nos com os prazeres do espírito e é este o problema, os prazeres do espírito são prazeres infinitos com a garantia de nunca alcançarem clímax. Todos os prazeres terminam no clímax, depois pedem descanso e logo renovação para novo clímax. Este circulo vicioso, repetitivo é vencido pelo prazer da meditação. Repare no prazer de comer, no prazer de conversar, no prazer de passear, viajar, dançar, e todos os outros prazeres que se buscam para vencer o tédio do próprio prazer: buscas que terminam invariavelmente no tédio do prazer acabado. Meditar é o mesmo que ser triste? Creio que não. Porém, meditar é também sonhar. E sonhar é um prazer do espírito que não tem fim, já que o sonhado é naturalmente um sonho que não se concretiza… mas pode sentir-se deleite em revê-lo infinitas vezes como uma esperança sem clímax. Por exemplo: o homem procura explicação para o mundo e, até hoje, não passou da produção de meras e superficiais descrições do que descobre. A palavra explicação não sem o sentido de explicar o que aquilo ou coisa é. Apenas descreve o fenómeno que lhe aparece e alegremente chama-lhe ciência. Logo, ao não explicar o quer que seja, a palavra significa humildemente uma descrição semântica do “aparecer”. Aqui temos um exemplo de meditação [sobre o que nos aparece...]. Mas não explica ou exige que seja triste. Podem ter-se sonhos alegres, com uma festa, com uma viagem, etc. etc. Mas também se pode sonhar com o inalcançável. Este tem sido o sonho mais persistente do homem. E é graças a esse sonho inalcançável que o homem fabrica coisas inexistentes na natureza, como o automóvel, o avião, a tv, blá, blá, blá.EFNão. Não acho que a alegria tenha de ser leviandade ou inconsequência. Pode ser uma busca consciente do melhor que há em nós e nos outros. Uma ode à vida. Um reconhecimento de que se aqui estamos, temos a obrigação não só de entender porquê, mas de tornar a nossa passagem (e estadia) o melhor possível para nós e para os que nos rodeiam. Não acho que os prazeres sejam finitos. A meditação (como eu a entendo- a meditação budista que pratico todos os dias, pelo menos meia hora) é uma busca e um encontro com algo superior e tranquilo (a fonte de toda a paz) e se todos os dias tem o seu fim, o certo é que diariamente se renova.DIContinuando o texto anterior, que não terminei por actos urgentes que me estavam sendo exigidos, devo acrescentar que a meditação budista que se assemelha, de outro modo, ao universo monádico, visa efectivamente a experiencia da dissolução do espírito na ordem universal (em permanente actualização da sua potencia). O desejo dos monges é viajarem ao ponto de retorno da dissolução desfrutando dos eventuais benefícios que essa pré-mistura lhes conceda e regressarem fortalecidos de harmonia e completude universal para a partilha. Há uma notável semelhança entre os conceitos da harmonização do homem com o universo e a teoria monádica leibniziana. Esta semelhança é negada por inúmeros pensadores que não querem ver as teorias de um pensador maior da cultura europeia, inspiradas em obscuros monges de mantas cor de cenoura. Sabe-se que as descobertas podem ocorrer em diferentes pontos do globo em simultâneo. Este deve ser o caso, já que Leibniz deixou uma obra maior no domínio da filosofia – Teodiceia e Metafísica – da física e das matemáticas, Contemporâneo de Newton e de Espinosa acompanhou de perto as teorias newtonianas que em muitas ocasiões criticou. Leibniz é autor do terceiro maior esquema filosófico do século XVII. ESF Nunca fiz meditação. Nunca fiz porque quero ver o mundo (e até o meta-mundo o quer que isso seja). Quero descrevê-lo nas suas virtualidades e perscrutá-lo nas ocultações pressentidas e não compreendidas. A angustiante dúvida da existência e da sua razão: O que é? Como é? Porque é? Questões que nos enredam desde sempre e, provavelmente, para sempre. Por isto compreendo o seu ponto de vista que diz ser «de modo bem mais simples». Mesmo considerando que dizer «mais simples» é o mesmo que dizer «mais natural», ainda assim prefiro dizer que o seu ponto de vista é «mais natural». Mais natural porque pela intuição, que nos é natural, procuramos aperfeiçoar a nossa percepção instintiva ao ponto de alcançar o objectivo final da dissolução harmónica no «grande silêncio». Empreendimento difícil e tanto mais difícil para quem já viciado no pensamento racional perdeu muito dessa espontaneidade natural animal. A substituição do conceito de um sistema solar antropológico pelo heliocentrismo Galiano, que o racionalismo cartesiano e as teorias mecânicas newtonianas vieram reforçar, feriu com gravidade a intuição pura como valor académico. A intuição foi assim lançada nas profundezas da animalidade, como coisa inadequada à superior racionalidade humana. Aqui, iniciou-se o processo mais universal da degradação do humano. E nunca mais parou. Por isso o recrudescimento do interesse do mundo dito «racional» pelas práticas orientais espiritualistas budistas, hinduístas e outras.Olhando, pós époché, a natureza com atenção, verá que os animais mamíferos – aqueles que melhor conhecemos, pois até os temos como companheiros domésticos e mascotes – possuem uma capacidade sensitiva semelhante à humana e em muitos casos superior, como é demonstrado pela sua utilização na percepção do perigo. A protecção civil já os utiliza na detecção antecipada de abalos telúricos e em muitas outras situações. E é assim porque os animais ao não possuírem a nossa racionalidade, mantém a sua capacidade instintiva, espontânea e animal, em estado puro, livre de esquemas educacionais redutores impostos pela endeusada matematicidade escolar. Todos os animais, e o homem por maioria de razões, possuem potenciais capacidades intuitivas naturais capazes de espiritualmente se misturarem na harmonia universal. Pergunta-me, que sinto? Vazio…Que busco? A completude… (o que é?)Porque não o faço? Faço-o na minha idiossincrasia de algum modo influenciada pelo que foi o meu meio cultural original…, (como faço?)Sim, compreendo o que me quer dizer…, compreenderei mesmo? Alguma vez haverá dois seres idênticos? Como?Se nem as partes do meu corpo são idênticas? Sinto vazio, um vazio que assemelho a um corpo sugado pelo vácuo à frente, se não o tivesse, estacava! Logo, é o vazio que tenho na frente que me extrai de um lugar para outro, me move… Para onde? Para os sucessivos vazios que a natureza na sua determinação nos coloca.Diz-se que Balzac quanto mais conhecia os homens mais amava os cães… Compreende-se. Quanto mais racionais mais longe estamos de compreender a naturalidade da natureza. ESF Você é um filósofo e não foi por acaso que escolheu filosofia. Eu, contemplativa, meditativa e mística, abordo no entanto as coisas de modo bem mais simples. Que tal dizer-me se pratica a meditação budista? Que sente? Que busca? Por que não o faz?See what I mean? Eu harmonizo-me sempre que posso com essa fonte de energia inesgotável (e não é fácil), e tenho efectivamente beneficiado dos seus efeitos. Não busco vidência nem capacidades extra sensoriais, não procuro apenas o meu bem estar. Procuro encontrar-me no grande silêncio onde as grandes verdades se ocultam. Sentir-me. Fundir-me nesse sentimento maior que nos permite a aceitação das coisas sem nos perdermos na especulação diária das mesmas. Identifico-me mais com a alma, com o espírito ou mónada do que com este fato de carne onde me encontro. De vez em quanto encontro-me nos outros em sentimentos de grande simpatia e afinidade. Depois, tento dissolver as frustrações no aroma breve do incenso e no fio que me prende ao cimo da aura. O tal fio de luz, a ponte, o «antakarana».DIObrigado, creio nos benefícios da meditação, talvez noutro sentido: se o universo é de mónadas, partes de dimensão ínfima, independentes, indestrutíveis e não mutuamente influenciáveis, programadas para se aglomerarem na formação dos corpos visíveis e não visíveis – aqui não me refiro a almas penadas, mas à atmosfera que nos medeia e separa, habitada por seres, no sentido de coisas não identificáveis pelo homem e não pensantes, já que o nada não existe – tenho de admitir sem esforço que o meu corpo é um aglomerado de nómadas e que uma vez cumprida a sua tarefa, a «goma» que durante uma vida as manteve unidas se deteriora, perde a energia e desce à terra para novamente ser desaglomerado e misturado na natureza. Parece que tudo no universo se conglomera e desaglomera em ciclos sucessivos, garantindo deste modo a perenidade do universo. As estrelas novas já foram brilhantes. Logo, o segredo do universo não está nas coisas em si, no aglomerado, mas sim na «goma» que a programação determina unir estas mónadas especificas para formar a carne e não as mónadas férreas ou pétreas ou vegetais para formar os nossos corpos. Toda a vida se alimenta da terra banhada pela água. Não é uma união mas a sua ligação que gera a troca de iões produtores da vida vegetal que alimenta as carnes da biosfera ou hidrosfera. ESF publicado por deutefa às 14:23

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